Bitcoin ou ouro? Porque não ambos?

Após um ano assombrado pela incerteza e especulação, parece que os reguladores americanos estão finalmente preparados para iniciar o seu antecipado ciclo de cortes sobre as taxas de juro. Segundo o consenso do mercado, a primeira redução será implementada em setembro — na hora certa para elevar os ativos de risco até novas máximas históricas no quarto trimestre. Após fortes desenvolvimentos fundamentais com a chegada dos ETFs de Bitcoin à vista (spot) e o recente halving do Bitcoin, vários investidores esperam que o BTC consiga quebrar os limites do seu intervalo de preços atual entre os $59.000 e $72.000, com a ajuda de outro evento significativo, e o início de um plano de flexibilização monetária preenche todos os esses critérios. No entanto, é necessário tentar avaliar a porção desses potenciais ganhos, que já está ponderada nos preços atuais, e adotar uma abordagem prudente, para evitar decisões impulsivas.

No outro extremo do espetro de risco, o ouro também teve um 2024 com bastante sucesso, por enquanto. Após alcançar múltiplos preços recorde em 2024, o ouro finalmente atingiu a sua terceira nova máxima de $2.435 por onça Troy a 20 de maio — escalando desde os $1.800 apresentados no início de 2023. Entretanto, os futuros do ouro já registaram aumentos de 13% durante este ano. Mais quais serão as implicações de uma política monetária mais flexível para o metal amarelo? Surpreendentemente, o impacto da flexibilização monetária não é tão claro ou simples como parece. Tipicamente, o interesse pelas ações e criptomoedas aumenta em cenários com taxas de juro menores, mas a incessante incerteza geopolítica, inflação elevada e enfraquecimento do dólar podem preservar o lustre do ouro. Portanto, sem mais demoras, vamos analisar os pontos positivos e negativos para o ouro e o Bitcoin durante os restantes meses do ano.

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Após o halving de abril, um evento há muito aguardado com entusiasmo, o Bitcoin mostrou-se incapaz de alcançar novos patamares. Na verdade, o seu valor acabou por diminuir em cerca de 7% durante junho. Todavia, o analista Minkyu Woo sugeriu que "finalmente, os vendedores estão exaustos", prevendo uma "mobilização de resgate" para breve. Historicamente, o impacto positivo dos halvings anteriores tornou-se óbvio apenas após alguns meses. O argumento para uma mobilização nascente é reforçado pelo aumento da liquidez dos dólares, uma métrica em conformidade, com a qual BTC se moveu de forma relativamente previsível nos últimos anos. O analista de mercado Cole Garner chegou ao ponto de sugerir que a "maior taxa de variação no nível de liquidez da Reserva Federal em 15 meses" pode ter um impacto tangível a curto prazo sobre a força dos preços do BTC. Caso a entidade reguladora decida, entretanto, confirmar (e apresentar uma data) o antecipado corte das taxas de juro no outono, o BTC pode receber o apoio necessário para ultrapassar a sua recente máxima histórica de $73.135. No entanto, os investidores menos experientes devem ter cuidado com o excesso de otimismo, considerando os potenciais fatores negativos a curto prazo. Outra venda por parte de um portefólio de criptoativos intitulado "German Government (BKA)” – desta vez de $52 milhões em Bitcoin – levantou algumas suspeitas sobre a venda das vastas reservas de BTC do governo alemão, no valor de $2,75 mil milhões. Entretanto, os ativos da "defunta" Mt. Gox, estimados em $9 mil milhões, devem começar a entrar no mercado durante os próximos meses. Embora isto não seja necessariamente desastroso para o BTC, é provável que crie um cenário de oferta excessiva a curto prazo, impedindo o crescimento dos preços até novas máximas. 

Febre do ouro

Como já mencionámos, o ouro viveu 12 meses extraordinários, considerando o seu ritmo de crescimento tipicamente lento e consistente. Após escalar mais de 30% em pouco mais de um ano, é sensato questionar a resiliência do metal amarelo e a sua capacidade de continuar o seu percurso de valorização, considerando que ainda não conseguiu revisitar a sua máxima de $2.435 atingida a 20 de maio. No entanto, de todo o conjunto de fatores que permitiu o recente desempenho positivo do ouro, vários continuam em efeito atualmente. Por exemplo, a situação geopolítica no Médio Oriente e Europa continua a deteriorar-se, enquanto a inflação permanece relativamente descontrolada. Se adicionarmos a potencial mudança para uma política monetária mais dovish da Reserva Federal, as notícias são extraordinárias para o ouro. O interesse pelo dólar americano entre os investidores de rendimento fixo é alimentado apenas pelas taxas de juro elevadas que, consequentemente, aumentam a rendibilidade das obrigações do tesouro. Quando a Reserva Federal decidir iniciar o seu plano de flexibilização monetária e cortar as taxas de juro, a procura pelo ouro irá aumentar ao longo do tempo. O diretor da corretora TradeStation, Anthony Rousseau, afirmou que "estamos perante uma trajetória bullish de vários anos no mercado do ouro". Como se isso não fosse suficiente, os bancos centrais continuam a aumentar ativamente as suas reservas de ouro. Para além do impacto positivo sobre os preços, provocado simplesmente pelo elevado volume de compras, o resultante aumento de liquidez irá suportar os investimentos em múltiplas classes de ativos, incluindo o ouro. 

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