Eduardo Strecht Ricou, Analista Sénior da Libertex
Perguntam-me muitas vezes se tenho opinião favorável ou contrária relativamente ao mundo das criptomoedas. Eu respondo com uma pergunta: "Sabe para que serve a Bitcoin?"
Muitas vezes respondem que não sabem muito bem para que serve a Bitcoin, mas que ouviram o vizinho gritar à janela a dizer que ganhou dinheiro a comprar e vender Bitcoin.
O que é a Bitcoin? Uma nova revolução no mundo tecnológico
Não estou a referir-me a inteligência artificial ou robôs, mas sim ao mundo das criptomoedas. Todos já ouviram falar muito deste tipo de criptomoedas ativas, sendo a mais famosa a Bitcoin, assim como outras como a Ripple.
A Bitcoin foi criada para fazer pagamentos através da Internet de forma mais rápida, segura e barata, além de ser um modo de pagamento descentralizado.
Blockchain é a base de todas as criptomoedas. Sem blockchain, a Bitcoin não existiria
O assunto é um pouco técnico. Blockchain é, basicamente, um livro de dados global que contém todos os registos fiáveis, uma vez que todas as transações são validadas antes de um novo bloco ser constituído. Dizem que é tão seguro que até recebeu a alcunha de "trust protocol" (protocolo de segurança), ou seja, a razão para a descentralização. Por outras palavras, não é regulado nem controlado por ninguém. É expansível, bastando para isso validar os dados e os registos que estão protegidos por criptografia avançada, o que não permite que a fonte seja removida, revista ou modificada.
Como é uma tecnologia avançada, ainda existe muito para explorar e desenvolver. O tempo das transações precisa de diminuir. A validação dos dados, a falta de supervisão e regulação podem ser vistos como libertários mas também como um grande perigo, porque os utilizadores não estão validados ou protegidos por nenhuma corporação, entidade pública ou estado, no caso de alguma coisa correr mal, tal como um caso de pirataria.
A mineração de Bitcoin envolve a utilização de diferentes equipamentos e meios
O mineiro de criptomoedas tem um trabalho complexo pela frente. Para a fazer a mineração de Bitcoin, são necessários máquinas e computadores com elevada capacidade. Consequentemente, o custo energético para manter as máquinas a funcionar permanentemente, de forma a obter tokens, é muito alto.
Para minerar Bitcoin, precisamos de computadores específicos, como ASIC, mais conhecidos como Antminers, que oferecem uma taxa de TH/s relativamente alta quando comparados com as placas gráficas (GPUs). O primeiro problema é o preço de aquisição bastante elevado, com um custo médio de 2000 $. É óbvio que os avanços tecnológicos e novas soluções irão reduzir o custo de aquisição no futuro, o que força os fabricantes destes equipamentos a melhorar as suas máquinas a cada dia que passa. Tudo isto para os eventos importantes, tal como o que vamos enfrentar com a Bitcoin, o "halving".
Em resumo, o processo de "halving" não é nada mais do que o valor da Bitcoin ser cortado ao meio.
Qual é o significado de fazer "halving" ao bloco de Bitcoin?
O "halving" diminui o número de novas Bitcoins geradas por bloco. Isto significa que a oferta de novas Bitcoins é inferior.
Em negociação, uma oferta inferior com uma procura estável leva a preços mais elevados. Como o "halving" reduz a oferta de novas Bitcoins, e a procura costuma permanecer estável, o "halving" tem sido, de forma geral, antecedido por algumas das maiores subidas da Bitcoin. Ocorreram dois "halvings", em 2012 e 2016. A ideia foi concebida para programar uma diminuição da emissão da moeda ao longo do tempo, razão pela qual é aplicado o corte na recompensa dos mineiros.
O "halving" possui um impacto na mineração da Bitcoin e, ao cortar a recompensa de blocos minerados pela metade, a rentabilidade para manter os equipamentos é afetada, devido à perda do rendimento dos mineiros.
O poder de processamento da rede de Bitcoin irá aumentar, sem dúvidas, após o evento de "halving" e com a chegada de novos mineiros ao mercado equipados com chips que conseguem obter mais potência e eficácia. Isto é algo que veremos com mais frequência após 12 de maio, a próxima data de "halving".
Existe a hipótese de que os mineiros e grupos de mineração venham a desligar os seus equipamentos devido a perdas que podem ser causadas pelo evento de "halving". No entanto, como já foi mencionado, este corte na emissão de moeda pode causar um aumento de preço, que pode equilibrar os cálculos económicos. No entanto, existe uma dúvida relativamente grande sobre quanto tempo pode demorar até o preço da Bitcoin subir.
Portanto, como eu não considero a Bitcoin um ativo, também não preciso de considerar a moeda tradicional e comum (que uso para comprar o café de manhã) sem ter de me preocupar com uma mudança súbita de valor em relação ao dólar americano.
A Bitcoin tem uma essência muito romântica: um método de pagamento digital descentralizado, rápido e seguro, acessível a todos
Tal como já expliquei, o custo da mineração pode ser muito elevado. Portanto, as comissões em percentagem do valor da Bitcoin são o que criará a solução para as operações no sistema não regulado da Bitcoin, de forma a que os mineiros sejam recompensados pelos seus serviços em criptomoedas. Com o custo da energia integrado na equação, é necessário ter o equipamento em funcionamento permanente.
De acordo com um estudo levado a cabo pelo banco holandês ING, são consumidos 211 kWh para validar uma transação de BTC. Este consumo tem a capacidade de fornecer energia a uma casa durante um mês. Como tal, as contas de eletricidade para aqueles que fazem mineração de BTC são muito elevadas.
Assim, se o mineiro mantiver metade das suas Bitcoins no evento do "halving", com os custos elevados de energia e a manutenção das suas máquinas para processar os Tokens, ele só irá sobreviver se o preço da Bitcoin subir e reequilibrar o custo da mineração. Por outro lado, já é possível minerar Bitcoins em Mineração na Nuvem. Isto permite executar o processo de extração sem a necessidade de utilizar tantos recursos. A mineração em nuvem é mais simples: com um computador doméstico e ligação à Internet, podemos ligar-nos à nuvem e processar os algoritmos remotamente sem a necessidade de uma máquina física (hardware), uma vez que é um terceiro a fornecer a máquina por nós. Mas, infelizmente, não é rentável, mesmo que os custos de energia das máquinas sejam reduzidos.
Os traders e os investidores possuem, assim, a oportunidade de comprar e vender Bitcoins, mas há que ter em conta que a ideia de incluir a Bitcoin em grandes quantidades mina o seu conceito inicial. A introdução de muitos especuladores e a ausência de novidades mais consistentes sobre o mundo das criptomoedas traz muito ruído e volatilidade aos mercados das criptomoedas, removendo o fator de estabilidade tão necessário a uma moeda global que se pretende usar para troca de bens e serviços em todo o mundo.
Após a febre das criptomoedas em 2018, testemunhámos uma relação entre a Bitcoin e o ouro, de abril a novembro de 2019. A teoria foi que a Bitcoin é tal como o ouro. Não possui qualquer rendimento ou taxas de juro e é usada por grandes investidores como instrumento de diversificação de portfolios por ativos de risco. Alguns analistas chegaram a colocar a Bitcoin como um instrumento de proteção contra a turbulência dos mercados financeiros.
O que realmente aconteceu, nestes últimos quatro meses, fez-me chegar à conclusão de que não existe nenhuma correlação com o ouro, ou com nada, pela simples razão de que é uma moeda digital e o que influencia o preço é mais do que apenas notícias: se o projeto Libra avançar no Facebook, a Bitcoin pode ser destronada. Após o período de quarentena, a globalização irá abrandar o seu ritmo; iremos voltar aos negócios regionais e locais? Isto não seria muito positivo para a Bitcoin. As novas necessidades criadas pelo vírus estão a lançar-nos cada vez mais para o mundo digital. Será isto positivo para a Bitcoin?
Existem algumas questões que poderão ser abordadas nos meses de incerteza que temos pela frente, assim como novas soluções, invenções ou oportunidades.
Mas devemos ter em atenção que a Bitcoin não é o dólar, nem irá ser nos próximos anos, e existem três razões para isso
A primeira: para relançar a economia, os estados e os bancos centrais devem continuar num caminho de expansão e crescimento, o que implica a emissão de dinheiro, muito dinheiro.
A segunda razão é que, nos últimos meses, o dólar foi altamente eficiente em resolver os pagamentos de mercadorias, com o planeta praticamente fechado em casa.
A terceira razão é a elevada volatilidade. Apesar do colapso no início de março, a Bitcoin conseguiu recuperar para 7500 $. Dito isto, não vejo a Bitcoin a comportar-se como o ouro. Olhando para o dólar, através da medição do índice do dólar (cesto de seis moedas contra o dólar), com uma tendência muito estável e volatilidade reduzida, o que é mais do que essencial em tempos de grande turbulência nos mercados financeiros, assim como ao enfrentar incerteza total num futuro próximo.
Em resumo, acredito no conceito como investidor; é muito atrativa para o futuro, mas existem riscos na volatilidade de preços, por ser nova, de ser destronada pela Libra do Facebook ou não ser aceite e usada em larga escala para o pagamento de bens e serviços. Para os traders, é muito importante seguir as notícias que têm um grande impacto no preço da Bitcoin, tal como as análises de gráficos nos ajudaram a compreender como o público reagiu à Bitcoin em determinados momentos do mercado.
Não perca a oportunidade de comprar Bitcoin com a Libertex antes do "halving".