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China aprofunda a sua deflação enquanto o Ocidente respira de alívio

Thu, 12/14/2023 - 14:35

"O próximo século irá pertencer à China" é uma previsão popular, e a narrativa de uma estrela em ascensão no Oriente tornou-se cada vez mais forte desde a viragem do milénio. Esta retórica é sustentada por fortes factos. A República Popular da China regista um crescimento anual médio de 9% no seu PIB desde 1978, afastando do limiar da pobreza 800 milhões de pessoa ao longo do caminho. No entanto, a pandemia e, particularmente a política COVID zero do PCC, colocou um previsível travão nesta tendência de crescimento substancial. Em 2020, o crescimento do PIB da China caiu para apenas 2%, devido à escassez de comércio internacional provocada pela paralisação global. Após ter disparado novamente para além dos 8% enquanto as economias ocidentais reabriam as suas portas, o país foi atingido por uma nova queda para 2% em resposta à política de confinamento draconiana aplicada à população ao longo de 2022.

Atualmente, após um período de intensificação global da inflação, ocorreu algo simultaneamente estranho e preocupante na China: os preços estão realmente a cair. É verdade. Após o relatório publicado em novembro sobre o índice de preços no consumidor, que exibia um declínio de 0,5% ano após ano (YoY), a China está oficialmente em situação de deflação. Pode até parecer algo positivo à superfície, mas a deflação incontida é na verdade o pior tipo de pressão sobre os preços, pois influencia a população a adiar o consumo em antecipação a preços mais baixos. Então, quais serão as potenciais implicações para os preços dos instrumentos na China e nas restantes regiões do mundo?

Há muito que se espera…

A consternação na economia da China não surgiu do nada, nem foi totalmente imprevisível. Para além dos efeitos da política COVID zero, o mercado imobiliário em queda prolongada também desempenhou um papel importante, assim como a taxa de desemprego entre jovens e as medidas repressivas impostas pelo governo ao setor da tecnologia. Estes fatores foram exacerbados peça aceleração da saída de capital estrangeiro após a pandemia e com a emergente tensão nas relações com os EUA, devido à situação de Taiwan. Para as ações chinesas no setor tecnológico, o efeito foi praticamente catastrófico. A Tencent e a Baidu, por exemplo, viram o valor das suas ações cortado pela metade desde o final de 2021. Entretanto, a globalmente famosa Alibaba entrou em queda até atingir uma perda de 65% durante o mesmo período. E agora, com a queda dos preços em determinados setores vitais, é compreensível que os consumidores evitem o maior número possível de compras, prejudicando ainda mais estas apps focadas no consumidor.

Até mesmo as fontes internacionais de combustível, como o petróleo e o gás, apresentam um declínio interanual significativo e, no entanto, a indústria chinesa mostra-se incapaz de aproveitar ao máximo esta situação, devido à fraqueza da sua economia doméstica e menor procura internacional. A pressão aumenta em Pequim para que seja tomada uma decisão. Como tal, toda a atenção estará focada nas próximas reuniões do Politburo e da Conferência Central de Trabalho Económico (CEWC), antecipando que o governador do Banco Popular da China, Pan Gongsheng, se comprometa a uma política monetária mais "acomodatícia" com o objetivo de impulsionar o nível de procura doméstica e expulsar a deflação. Caso se confirme o apoio do PCC, poderemos esperar confiantemente um retorno ao crescimento para estas ações chinesas em 2024, que não param de registar valores mínimos há vários anos.

Vencedores e perdedores

A economia ocidental tem sofrido imenso durante estes últimos anos — não é segredo — e neste caso, comparando com a situação da China, é praticamente um reflexo no espelho. A inflação irrompeu descontroladamente, continuando significativamente acima dos objetivos dos EUA e da União Europeia, enquanto a escassez energética associada à instabilidade geopolítica no leste europeu castiga a indústria e os consumidores comuns. Consequentemente, o índice EURO STOXX 50 tem permanecido bastante estagnado, esforçando-se para avançar apenas uns meros 5% durante os últimos dois anos. Até há algumas semanas, o índice estava efetivamente em queda, mas conseguiu recuperar 10% em pouco mais de um mês. Este movimento foi refletido "à letra" no S&P 500.

Acredita-se que este súbito impulso está associado à "exportação" da pressão descendente dos preços da China para o Ocidente. De facto, a China representa 20% de todas as importações da Europa, que mantêm uma relação comercial no valor de $2,5 mil milhões por dia. Com uma opinião posteriormente replicada por Albert Edwards, analista da Société Générale, Thierry Wizman da Macquarie escreveu: "Quanto maior for a demora por uma prova de possível recuperação da China, menores serão as expetativas para a inflação no Ocidente, enquanto ganha ímpeto o medo de a China exportar a sua deflação para o resto do mundo através do comércio internacional".

Caso esta tendência permaneça, poderemos ver a normalização orgânica da inflação nos EUA e na União Europeia, que permitiria aos bancos centrais normalizarem também as suas políticas monetárias e até mesmo adotar uma postura mais "dovish" (centrada no estímulo económico) em 2024. Obviamente, seriam notícias fantásticas para as ações em todo o Ocidente. 

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