Thu, 02/08/2024 - 15:05
O mundo vive num período de incerteza perpétua desde 2020. Após o final da batalha com o coronavírus, o mundo foi assombrado pelo aumento drástico da inflação, forçando os bancos centrais a tomarem ações severas para subir as taxas de juro. Nenhum outro regulador foi tão célere a agir, nem mais agressivo, do que a Reserva Federal dos EUA. A sua rápida reação pagou dividendos, reduzindo em pouco tempo a inflação para um nível próximo à meta, sem comprometer os mercados de trabalho ou ações. Naturalmente, este conjunto de medidas impulsionou o fortalecimento do dólar em 2022, colocando até esta moeda em paridade histórica com o euro, e apresentando máximas de vários anos contra os seus concorrentes mais próximos, desde o dólar australiano à libra esterlina.
Agora, apenas 18 meses mais tarde, a moeda nacional dos EUA começou a perder terreno em relação às restantes principais moedas do mundo. Os rendimentos das obrigações do tesouro registam agora o seu nível mais baixo em dois anos e, aparentemente, estamos prestes a observar uma normalização no mercado Forex. Quais são os fatores que impulsionam estes movimentos, quais são as implicações para os investidores em moedas, e quais são as previsões para os principais pares de moedas nos restantes meses de 2024?
É tudo política
Após uma série de aumentos dos juros para lidar com a inflação, a Reserva Federal tem permanecido imóvel há vários meses. Com a inflação estável, existem rumores acerca de um potencial corte nas taxas de juro pela Reserva Federal. Embora o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, tenha mencionado que não devemos esperar que as reduções sejam administradas em março, a ferramenta FedWatch do CME Group indica uma probabilidade de 96% para cortes em maio.
No entanto, é importante salientar que a entidade reguladora dos EUA foi bastante mais agressiva com os aumentos das taxas de juro em 2021-2022. Atualmente, as taxas de juro americanas continuam um ponto percentual acima dos valores observados na Zona Euro. De qualquer forma, o efeito psicológico causado pela possível reversão dos aumentos das taxas de juro irá sempre exacerbar o impacto sobre o valor das moedas nacionais. Dito isto, o par EUR/USD subiu quase 3% no último mês, demonstrando que o mercado reconhece que a saúde geral do dólar continua superior ao euro.
Entretanto, Banco de Inglaterra, que decidiu seguir o exemplo da Reserva Federal e aumentar agressivamente as taxas de juro, continua com uma postura ofensiva. Não existe um compromisso firme do BoE para reduzir a sua atual taxa de juro de 5,25-5,5%, o que se refletiu em Cable, que ganhou quase 5% desde novembro de 2023. O Banco da Reserva da Austrália, tal como o BCE, aumentou as suas taxas de juro para apenas 4,35% antes de adotar uma postura mais branda, aguardando resultados. Aparentemente, esta estratégia acabou por ser nociva para o progresso do dólar australiano contra o americano, sendo que o par AUD/USD caiu 5% para 0,65 desde o início do ano (YTD). Caso ocorram reduções das taxas de juro antes de maio, deveremos observar uma normalização destes pares para as suas médias pré-pandemia.
Além dos bancos
Existem outros fatores, frequentemente ignorados, que impulsionam estes movimentos nas restantes regiões do mundo, para além do impacto das políticas monetárias impostas pelos bancos centrais. As grandes economias da China e Índia, por exemplo, são extremamente sensíveis a fatores domésticos, mudanças no mercado das matérias-primas (commodities) e sentimento no setor industrial global. Por exemplo, a rupia conseguiu recentemente ganhar algum terreno contra o dólar americano, devido a uma proposta favorável para o orçamento nacional, que define um défice orçamental abaixo do esperado, assim como metas mais sensatas para os empréstimos brutos a partir de 1 de abril. O PMI do sector industrial, tanto na Índia como na China, aumentou incessantemente durante os últimos dois meses, alcançando níveis de 56,90 e 49,20, respetivamente. Naturalmente, estes dados ajudaram a preservar a força das moedas destes dois países. O renminbi da China recebeu um impulso adicional, sendo cada vez mais aceite como moeda de troca no resto do mundo, e retirando rapidamente uma quota do mercado do dólar. Durante os últimos dois anos, a participação do yuan em produtos exportados para a Rússia aumentou de 0,4% para 34,5%, e a potencial expansão do grupo BRICS pode aumentar o interesse pelo RMB.
Entretanto, a tradicional moeda de refúgio, o iene japonês, teve um período difícil nos últimos dois anos. Não conseguindo aumentar suficientemente as taxas de juro, o Banco do Japão sofreu uma redução de quase 25% no valor do iene desde janeiro de 2022. Após um discurso menos brando do governador Kazuo Ueda em janeiro, e um segundo mês consecutivo de crescimento no PMI nos sectores da produção e serviços, é possível que o par JPY/USD alcance ponto de viragem caso consiga testar a SMA (média móvel simples) de 50 dias. É sempre benéfico diversificar no mercado Forex para maximizar o nível de proteção contra a volatilidade em determinados pares de moedas.
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